Dizer dele que foi o autor do POSAT1 é pouco porque este SÁBIO tem um currículo académico de pasmar, vastíssimo, variadíssimo, recheado de prémios, condecorações, por cá e no estrangeiro, a que se soma uma vastidão de mundo vivido e de vivências…..e uma humildade e simplicidade no dizer que é de pasmar. Se a isto juntarmos a sua boa disposição, a bondade e facilidade em comunicar, na forma hilariante como conta muitas das suas histórias, em ligar tudo com tudo, sentimo-nos sem palavras! Que pessoa fascinante tivemos nós o privilégio de conhecer, ali, de carne e osso, à nossa beira….
Convidámos o prof Carvalho Rodrigues para nos falar do estado do mundo e da sustentabilidade desta nossa casa, na sua perspectiva de cientista e claro está, ele assim o fez, mas de uma maneira totalmente inesperada. Logo a começar pelo título se percebeu que a lição nos pasmaria. Afinal, como ele nos explicou:
«O dó sustenido surgiu-me por ‘sustenido’ vir do latim “sustinere” que se obtem de “sub” de abaixo mais “tenere” que quer dizer segurar, agarra. Ou seja, a mesma raiz de sustentar. Para além de que, o dó sustenido dá Si que era o tom de Pavarotti ...»
E assim a lição terminou em dança e começou num sustenido de luz, não fôssemos nós filhos do cosmos, das estrelas….E à Lei mais universal das ciências físicas, a 2ªLei da Termodinâmica ou Lei da Conservação da Energia, essa inexorável seta do tempo, que foi invocada do princípio ao fim, o Prof numa lição de sabedoria invulgar, que a todos estarreceu e emudeceu, mostrou-nos como esta lei está omnipresente em todos os nossos atos! Até porque, a entropia de qualquer sistema aberto, tende sempre a aumentar…..não fosse o ser humano, o universo, uma obra aberta como nos fez ver Umberto Eco. E no fundo, perante isto, o que o ser humano tem que fazer constantemente é um balanço entre a energia produzida e a entropia causada…..ENERGIA vs ENTROPIA…Como acontece com a nossa coesão territorial que está na ordem do dia: os 5 concelhos mais populosos de Portugal são aqueles em que mais entropia se gera, grandeza esta que aumenta constantemente nesses locais (daí os consequentes problemas na habitação, elevadíssimos índices de poluição, etc.). Como podemos não ter problemas de habitação em Portugal, se naqueles lugares não cabe mais gente?, questiona o prof Carvalho Rodrigues. Numa linguagem simples, como só os sábios conseguem fazê-lo, acessível ao mais comum (sejam ou não conhecedores da linguagem da ciência, tantas vezes tão hermética), o professor tocou a todos com os variadíssimos exemplos, socorrendo-se da arte, da música, da literatura, de histórias simples, para nos provar que as leis Físicas também se escondem em outras representações! Depois reforça a ideia, em forma de aviso: devemos deixar de lado o que se ouve dizer pois a nossa obrigação é lidar com os factos, com argumentos, com as observações para melhor compreender o que se passa. Tentar ler e decifrar o mundo com objetividade mas admitindo que tudo se rege por probabilidades e não por certezas, como a mecânica quântica nos lembra! Aliás fez questão de dizer muitas vezes: «a probabilidade não é o acaso! A probabilidade é a medida de quão certo vai acontecer alguma coisa, e obtém-se por combinação de argumentos, que podem, matematicamente, originar equações para resolver: o que se observa no mundo depende desse sistema de equações». E as ideias mais ‘desassossegadoras’ prosseguem….. Uma outra que nos trouxe nesta matéria de sustentabilidade do planeta, é que Vitorino Nemésio já se debruçara sobre ela há quase 50 anos… Na verdade, este exímio escritor e comunicador, ficámos a saber, compreendia muitíssimo bem a linguagem da ciência, e inclusivamente escreveu um livro: «A Era do Átomo / Crise do Homem», publicado há pela primeira vez em 1976, onde já denunciava toda esta problemática que vivenciamos hoje e onde denominava o homem como ‘homem entrópico’….. Inacreditável! E nós hoje, SOMOS O HOMEM ENTRÓPICO, que Nemésio previra, confessou Carvalho Rodrigues.
É difícil sintetizar uma lição destas! A girandola de cores era tanta, rodando a tamanha velocidade, que a magnetização foi total na bela sala do Espaço Miguel Torga que sempre nos acolhe, nesse dia 19 de abril de 2023…. À dança de Leonard Cohen em que todos terminámos embalados, rendidos, encantados, numa lição suprema de amor à vida e à bondade, tamborilavam em nós palavras….palavras de equilíbrio….de gratidão por ali estarmos…palavras que nos confortam em dias de incerteza e ingratidão como as que encontrámos no príncipe Pyotr que em 1902 postulava a imperiosidade da ajuda mútua como fator de evolução…..e de como isso é inato em nós já que ‘a cooperação é o instinto’….Ou ainda estas citações:
«No mundo, prevalece o mais adaptado e mais altruísta» (Nash)
«A escrita é a pintura da pauta da voz» (Voltaire)
…..E por incrível que tudo isto possa parecer, tudo tem ligação com essa inexpugnável 2ªLei da Termodinâmica que perante o nosso olhar teimava em não desaparecer: dS>0…..Que LIÇÃO!...Que dança sobre ‘economia circular’…..a dança atual do homem sustentável……
…BEM-HAJA, QUERIDO PROFESSOR! Jamais esqueceremos esta grandíssima e inominável lição com que nos brindou, e que continuaremos a sentir dentro de nós, passando-a aos nossos alunos…. Já amamos Casal de Cinza como se nos pertencesse também, graças às suas histórias….. Aconselhamos que todos conheçam a sua página:
https://www.fernandocarvalhorodrigues.eu/pt/
A equipa do «5x ciência às 5»